Hidrogênio Verde: A Nova Fronteira na Indústria Siderúrgica Brasileira
Em um cenário em que as cidades são moldadas por estruturas metálicas, a produção de aço tem um custo ambiental significativo. Fortemente ligada à emissão de dióxido de carbono (CO₂), a indústria siderúrgica é responsável por cerca de um terço das emissões industriais no mundo e cerca de 7% das emissões globais, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a Agência Internacional de Energia (IEA).
Preocupada com o impacto ambiental dessas operações, a engenheira química Patrícia Metolina idealizou um processo inovador que incorpora o hidrogênio verde na produção de aço a partir do minério de ferro. Essa pesquisa, que lhe rendeu o prêmio de teses da Universidade de São Paulo (USP), é um exemplo de como a transição energética pode ser impulsionada neste setor.
Segundo Metolina, “no Brasil, essa tecnologia ainda não está em desenvolvimento, mas nossas pesquisas demonstram o potencial desse processo. Na Suécia, já existem projetos pilotos que validaram sua eficácia.” A adoção do hidrogênio verde poderia, portanto, minimizar as emissões de CO₂ na produção de aço, substituindo métodos convencionais que utilizam coque de carvão.
Na última semana, o Ministério de Minas e Energia (MME) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) introduziram o Portal Brasileiro de Hidrogênio, uma plataforma destinada a ampliar o acesso a informações sobre o setor e atrair investimentos para tecnologia no país. O hidrogênio verde, produzido a partir de fontes renováveis, como energia solar, eólica e hidrelétrica, tem potencial para revolucionar diversas indústrias. Este gás pode ser transformado em combustível para veículos, fertilizantes e, crucialmente, o aço.
O Processo de Transformação
A transformação do minério de ferro envolve inicialmente a extração de seu componente principal, que pode ser hematita ou magnetita. Tradicionalmente, isso é feito em fornos de alta temperatura, liberando grandes quantidades de CO₂. Por outro lado, a pesquisa de Metolina utiliza o hidrogênio verde em uma reação química que elimina a necessidade de coque de carvão, resultando na produção de vapor de água como subproduto.
Metolina enfatiza que o Brasil apresenta vantagens para a produção de hidrogênio, o que pode ser especialmente benéfico em regiões como o Nordeste, onde há abundância de energia eólica. “Essa abordagem poderia revitalizar a indústria siderúrgica brasileira, fazendo-a mais sustentável”, afirma.
Crescimento do Setor Global
Estudos da Hydrogen Council indicam um aumento na demanda global por hidrogênio, que pode quintuplicar até 2050. Atualmente, a América Latina lidera os investimentos em projetos de hidrogênio, com destaque para as iniciativas no Brasil, cujas condições climáticas favorecem a produção de hidrogênio verde.
Os principais projetos do país estão concentrados no Complexo de Pecém, no Ceará, mas há também iniciativas em Minas Gerais e Pernambuco. A Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV) destaca empresas como Fortescue, Casa dos Ventos e Atlas Agro como principais líderes neste setor emergente.
Desafios Adicionais
Apesar do potencial promissor, a implementação do hidrogênio verde enfrenta desafios significativos. Entre os principais obstáculos estão os altos custos de produção, a falta de infraestrutura adequada para transporte e armazenamento, e a necessidade de um marco regulatório que possa atrair investimento.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) tem investido em pesquisas nessa área, mas enfrenta dificuldades como a contaminação de hidrogênio produzido em suas instalações e a carência de infraestrutura de manutenção para equipamentos especializados, os eletrolisadores.
A professora Andrea Santos, coordenadora do Laboratório de Transporte Sustentável da UFRJ, chama atenção para as necessidades financeiras e operacionais: “Faltam recursos para manutenção e operação, e precisamos de investimentos para avançar nas pesquisas. Se conseguirmos financiamento, a tecnologia do hidrogênio poderá se tornar mais acessível e competitiva no Brasil.”
Com questões de sustentabilidade cada vez mais em foco, o Brasil se prepara para integrar o hidrogênio verde em sua matriz industrial, mas não sem enfrentar uma série de desafios que precisam ser abordados para garantir uma transição energética eficaz e viável.
Hidrogênio verde enfrenta desafios para cumprir potencial energético
Fonte: Agencia Brasil.
Meio Ambiente