Balsas: O Paradoxo do Desenvolvimento e do Desmatamento
Balsas, Maranhão – O município de Balsas, localizado no extremo sul do Maranhão, experimentou uma transformação significativa nos últimos 25 anos, consolidando-se como um dos epicentros da fronteira agropecuária no Brasil. Entretanto, esse progresso econômico traz consigo sérios desafios ambientais, principalmente o desmatamento do Cerrado e os riscos à segurança hídrica do país.
O Cenário Econômico
Com uma população de mais de 100 mil habitantes, Balsas se destaca como o terceiro maior PIB do Maranhão, atrás apenas de São Luís e Imperatriz. O centro urbano abriga um comércio voltado para o agronegócio e sedes de gigantes do setor alimentício, como a holandesa Bunge. No entanto, os trabalhadores que habitam os bairros periféricos do município enfrentam elevadas taxas de aluguel e custos de vida.
A Agência Brasil realizou uma série de entrevistas com líderes locais, empresários do agronegócio e representantes do governo para compreender a relação entre crescimento econômico e os danos ambientais gerados.
Campeã de Desmatamento
Balsas é um dos municípios que mais desmatou no Brasil. O Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD 2024), do MapBiomas, revelou que a cidade desmatou 16 mil hectares em 2024, mesmo com uma redução de 56% em relação a anos anteriores. A comparação é alarmante: o volume de vegetação suprimida no ano passado foi o dobro do registrado em 2018. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) confirmou que o desmatamento em Balsas aumentou 30% entre agosto de 2024 e julho de 2025.
Essa destruição de áreas nativas é especialmente preocupante, pois o Maranhão foi, pelo segundo ano consecutivo, o estado que mais perdeu vegetação nativa no Brasil, com 17,6% do total desmatado em 2024, o que significa 218 mil hectares, área significativamente maior que a de São Paulo.
Bacia do Rio Parnaíba
Balsas abriga também as nascentes da Bacia do Rio Parnaíba, a segunda mais importante do Nordeste. O relatório revela que a região do Matopiba, que inclui partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, responsáveis por 42% da perda de vegetação nativa do Brasil e 75% do desmatamento no Cerrado, enfrenta uma crise hídrica silenciosa. Isso se deve à pressão do agronegócio, que chegou à sua maior biorrefinaria de etanol de milho no Nordeste, a usina Inpasa.
Desafios Hídricos
Apesar do progresso econômico, muitas comunidades em Balsas ainda carecem de água potável. Algumas, como Bacateiras e Angical, dependem da coleta de água do Rio Balsas, uma prática que se mantém há décadas. A professora Maria de Lourdes Macedo Madeira, residente de uma dessas áreas, relatou que a comunidade luta para instalar poços artesianos oferecidos pela Diocese de Balsas.
A água se torna um recurso cada vez mais escasso, e as comunidades tradicionais notam a redução das vazões dos rios, uma tendência confirmada por dados do Serviço Geológico Brasileiro (SGB), que indica uma queda sustentada nas vazões de rios, apesar da estabilidade das chuvas.
Impactos do Agronegócio e Ações do Governo
Enquanto alguns empresários defendem que o agronegócio traz benefícios sociais e econômicos, ambientalistas alertam sobre as consequências ambientais devastadoras, que incluem a perda da biodiversidade e a deterioração da segurança hídrica. O secretário de Meio Ambiente do Maranhão, Pedro Chagas, ressalta que a regulamentação está sendo seguida e que o desafio está em equilibrar o crescimento econômico com a sustentabilidade ambiental.
Fiscalização Ambiental
Estudos recentes indicam que uma quantidade significativa das autorizações para supressão de vegetação foi emitida em áreas protegidas. Segundo dados do projeto Tamo de Olho, 51% das Autorizações para Supressão de Vegetação (ASV) respeitam áreas de Reserva Legal, Área de Proteção Permanente, Unidades de Conservação e Terras Indígenas. Isso levanta questionamentos sobre a eficácia da fiscalização das práticas de desmatamento no estado.
Conclusão
Com uma economia voltada para o agronegócio e uma grande pressão sobre os recursos naturais, Balsas vive um dilema: como garantir crescimento sustentável sem comprometer a segurança hídrica e o futuro do seu bioma. O foco no equilíbrio entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental é essencial para o futuro da região.
Reportagem de Fernando Frazão/Agência Brasil
Conhecimento e imagens reproduzidas com autorização da Agência Brasil
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Fonte: Agencia Brasil.
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