Relações Históricas entre Brasil e Angola: Uma Conexão de Séculos
Uma História de Laços Profundos e Complexos
A relação entre Brasil e Angola remonta a séculos, marcada por uma intensa troca cultural e histórica, especialmente através da tragédia do tráfico de escravos. Estima-se que aproximadamente 4,8 milhões de africanos foram trazidos ao Brasil como escravizados, dos quais cerca de 3,8 milhões oriundos da região da Congo-Angola, conforme dados do Slave Voyages. Essa conexão tem gerado um legado persistente, onde grande parte da população brasileira é descendente de africanos dessa região.
No contexto contemporâneo, a ligação entre Brasil e Angola tem se reconfigurado. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu terceiro mandato, visa uma reaproximação com Angola, buscando diversificar as relações comerciais além do petróleo e do agronegócio predominantes nos intercâmbios atuais.
Anexação Proposta
Quando Dom Pedro I proclamou a independência do Brasil, a elite comercial angolana, especialmente dos portos de Luanda e Benguela, manifestou interesse em anexar Angola ao novo Brasil. Gilberto da Silva Guizelin, professor de história da Universidade Federal do Paraná (UFPR), relata que os senhores de escravos de Luanda redigiram uma petição em defesa dessa anexação, que, embora tenha recebido certa atenção do governo brasileiro, foi inviabilizada por oposição de Portugal e Inglaterra.
Relações Comerciais e Mudanças Políticas
Após a abolição do tráfico negreiro em 1850, o Brasil buscou manter relações econômicas com Angola, mas as dificuldades eram evidentes. Geopolítica conturbada e a política colonial de Portugal dificultaram essa interação.
Durante a República Velha (1889-1930), a política brasileira passou a enfatizar o "embranquecimento" populacional, aumentando a exclusão dos negros da vida econômica e social. Esse clima de racialidade extrema dificultou a formação de laços mais profundos com o continente africano.
O Papel de Jânio Quadros
Na década de 1960, um novo impulso ocorreu com a descolonização de várias nações africanas. O presidente Jânio Quadros foi pioneiro ao estabelecer a primeira embaixada do Brasil na África, em Acra, Gana, o que indicou uma tentativa de retomar laços com o continente.
No entanto, com a ditadura militar a partir de 1964, essa reaproximação foi severamente interrompida. O regime militar priorizou as relações com os aliados ocidentais e afastou-se dos movimentos de libertação africanos, alterando seu foco geopolítico.
A Independência de Angola e o Reconhecimento Brasileiro
Na década de 1970, a Revolução dos Cravos em Portugal levou à independência de Angola, em 1975, momento em que o Brasil se destacou como o primeiro país a reconhecer a nova nação africana. A Petrobras e outras construtoras brasileiras foram essenciais na reconstrução do país após a guerra de libertação.
Após a redemocratização, o presidente José Sarney fez uma tentativa de fortalecer laços com Angola, mas seus sucessores priorizaram relações com Estados Unidos, Europa e países da América Latina, relegando a África a um segundo plano.
Governos Recentes e a Reaproximação
Com os mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, houve uma significativa reavaliação das relações com a África, com um destaque à cooperação em áreas como saúde e agricultura. No entanto, sob os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, as relações voltaram a ser enfraquecidas, com o fechamento de embaixadas e a ausência de visitas presidenciais ao continente africano.
Recentemente, a professora Elga Lessa de Almeida, da Universidade Federal da Bahia, destacou a debilidade das relações sob a gestão de Bolsonaro, marcada por conflitos envolvendo a Igreja Universal em Angola. Em contrapartida, Lula, em seu terceiro mandato, busca revitalizar essa conexão, enfatizando uma diversificação na pauta comercial.
As impressões da história continuam a informar a complexa rede de relações entre Brasil e Angola, um vínculo moldado por intercâmbios culturais, desafios políticos e esforços contínuos de colaboração.
Conheça as relações Brasil-Angola: da escravidão ao petróleo e ao agro
Fonte: Agencia Brasil.
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