Baixa Reciclabilidade de Embalagens Plásticas Impacta Catadores no Rio de Janeiro
Uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira (22) revela que a baixa reciclabilidade de embalagens plásticas gera perdas econômicas significativas e sobrecarga de trabalho para cooperativas e associações de catadores no estado do Rio de Janeiro. Realizado entre julho e dezembro do ano atual, o estudo analisa o impacto dos plásticos sem valor no mercado sobre a rotina e a renda desses trabalhadores.
A pesquisa foi conduzida pelo Instituto de Direito Coletivo (IDC) em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF), através da Incubadora Tecnológica de Empreendimentos de Economia Solidária do Médio Paraíba (InTECSOL). Para a análise, foram consideradas 20 organizações de catadores, sendo 10 localizadas na capital fluminense e 10 nas regiões sul, centro-sul e Costa Verde.
De acordo com os dados, cada cooperativa perde em média quase 16 horas por mês na triagem de plásticos que não geram retorno financeiro, o que equivale a cerca de 9,4% do tempo mensal de trabalho dos catadores. A maioria deles trabalha em média 7 horas e meia por dia, totalizando 22 dias úteis por mês.
Perfil dos Catadores
O estudo mostrou que a maioria dos catadores identificados (68,56%) é composta por mulheres. Na análise por raça/cor, 58,75% são pardos, 30,82% são pretos e 9,43% são brancos. Essa diversidade reflete a necessidade de inclusão e suporte a esses trabalhadores que desempenham um papel fundamental na coleta seletiva.
Os pesquisadores também estimaram a perda financeira das cooperativas devido à não comercialização de todos os tipos de rejeitos plásticos. Muitos materiais com potencial de serem reciclados acabam sendo descartados em aterros, levando a uma arrecadação mensal que varia entre R$ 1.179,03 e R$ 3.771,72 apenas com resíduos que poderiam ter sido vendidos.
Tatiana Bastos, presidente do IDC, destaca a importância do trabalho dos catadores no sistema de reciclagem brasileiro e critica a inadequação da remuneração. “Os catadores são uma categoria profissional essencial para o meio ambiente. A sociedade deve muito a esse serviço”, afirma.
Composição dos Resíduos e Rejeitos
A pesquisa revelou que a maioria dos resíduos analisados era composta por plásticos (28,19%) e papel (26,16%). A categoria “outros”, que inclui eletrônicos, vidro e embalagens Tetra Pak, representa 21,23%, enquanto rejeitos e metais juntos totalizam 24,42% dos resíduos.
A atenção se volta para a categoria de rejeitos, que, segundo a Lei 12.305/2010, são materiais que não têm mais opção de tratamento viável. Dentre os 533 embalagens plásticas auditadas, 44,83% eram plásticos, com 82% delas oriundas da indústria alimentícia. Notavelmente, 36,59% dos rejeitos plásticos são do tipo Bopp, amplamente utilizado em snacks e doces. Além disso, 33,40% das embalagens não possuem código de identificação de reciclagem, o que as classifica como “não especificadas”.
Responsabilidade da Indústria
A pesquisa identificou 199 grupos empresariais responsáveis pelas embalagens analisadas, com seis empresas concentrando quase 30% dos rejeitos: Mondelez International, M. Dias Branco, Pepsico, Nestlé, Bimbo e Capricche. Os pesquisadores enfatizam a responsabilidade da indústria, especialmente do setor alimentício, em adotar embalagens mais ecoeficientes.
A urgência de investimentos em design circular e a promoção de práticas de logística reversa são destacadas como formas fundamentais de reduzir impactos ambientais e garantir uma renda digna para os catadores. Tatiana Bastos sugere que as empresas repensem os materiais que utilizam: “Será que essas empresas não poderiam usar um plástico com durabilidade maior, que pudesse ser descartado e reciclado, ou optar por vidro e papelão?”, questiona.
Bastos também critica a discrepância entre a legislação ambiental e sua aplicação prática no Brasil. “O poder público possui instrumentos normativos para atuar. É preciso fiscalizar melhor o mercado e cobrar das empresas que produzem essas embalagens”, conclui.
Por meio deste estudo, a pesquisa lança luz sobre a realidade dos catadores no Rio de Janeiro e as questões cruciais na gestão de resíduos, reforçando a necessidade de ações conjuntas entre sociedade, indústria e governo para um futuro mais sustentável.
Plásticos não recicláveis geram perdas e sobrecarga a catadores no Rio
Fonte: Agencia Brasil.
Meio Ambiente