Organizações Sociais da América Latina e do Caribe Exigem Reparação da França ao Haiti por Dívida Histórica
Organizações sociais e populares da América Latina e do Caribe entregaram uma carta aberta ao governo da França nesta quinta-feira (17), reivindicando que o país compense o Haiti pela dívida de 150 milhões de francos imposta pelo reconhecimento da independência da ilha caribenha, que ocorreu há exatamente 200 anos.
“É hora de a França reconhecer, restaurar e reparar essa dívida com o povo do Haiti”, afirmaram as organizações signatárias, entre elas a Julibeo Sur/Américas, que congrega coletivos, movimentos e associações populares da região. O governo francês reconheceu a injustiça histórica em relação ao Haiti e anunciou a criação de uma comissão que analisará a história da dívida, mas não fez menção a compensações financeiras.
Atualmente, o Haiti enfrenta uma grave crise humanitária. Dados recentes indicam que mais da metade da população está em estado de fome aguda, enquanto mais de 80% da capital, Porto Príncipe, está sob controle de gangues armadas. Estima-se que, ao longo dos anos, o país teria pago o equivalente a 560 milhões de dólares em uma dívida que, se não tivesse sido quitada, poderia ter somado 21 bilhões de dólares à economia haitiana.
A Anistia Internacional sublinhou que as organizações do Haiti e da diáspora clamam pela reparação da França em razão dos efeitos persistentes da dívida colonial. Erika Guevara Rosas, diretora da Anistia Internacional, destacou: “O colonialismo, a escravidão e o tráfico de escravos não são coisas do passado; seus efeitos têm um impacto duradouro no Haiti. A França tem a obrigação legal, sob o direito internacional, de fornecer reparações e lidar com as consequências da dívida da escravidão, do tráfico de escravos e do colonialismo”.
Ao longo da história, a dívida da independência foi um fardo pesado para o Haiti, que gastava cerca de 80% de seu orçamento nacional com o pagamento da dívida externa em 1900. Governos haitianos e a Comunidade de Países Caribenhos (Caricom) têm reiterado a necessidade de reparações da França.
O 17 de abril marca o dia em que, em 1825, o Haiti assinou um acordo com a França sob a pressão de sua frota militar, após 21 anos de um bloqueio econômico imposto pela França e outras potências coloniais. Especialistas afirmam que a pesada dívida imposta à jovem república contribuiu decisivamente para a condição de pobreza extrema que o Haiti enfrenta hoje.
“Essa dívida consumiu a maior parte dos recursos fiscais e comerciais do Haiti, forçando-o a buscar empréstimos em bancos franceses, americanos e alemães para cumprir um acordo que se revela profundamente injusto”, argumentam os signatários da carta.
O governo do presidente Emmanuel Macron reconheceu, em sua declaração, que a dívida imposta pelo Rei Carlos X da França criou um “fardo pesado” para o Haiti. Macron afirmou que “reconhecer a verdade da história é recusar o esquecimento e o apagamento”, e anunciou a criação de uma comissão conjunta franco-haitiana para examinar a história da dívida e propor recomendações para um futuro mais pacífico. No entanto, nenhuma menção a reparações financeiras foi feita.
Considerado a mais lucrativa colônia do mundo no século 18, o Haiti se tornou a primeira nação negra livre do mundo e o primeiro país independente da América Latina e do Caribe, após uma sangrenta luta liderada por ex-escravizados sob Toussaint Louverture.
Em termos de reparaçães, as vozes que emergem da América Latina e do Caribe, junto a organizações haitianas, clamam por justiça e pelo reconhecimento do legado colonial e suas consequências até os dias de hoje.
Organizações pedem que França repare Haiti por dívida da independência
Fonte: Agencia Brasil.
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