Brutalidade nas escolas: 90% de estudantes LGBTI+ relatam agressões verbais em 2024
Um alarmante levantamento aponta que nove em cada dez estudantes adolescentes e jovens LGBTI+ afirmaram ter sido vítimas de algum tipo de agressão verbal em 2024. Os dados são da Pesquisa Nacional sobre o Bullying no Ambiente Educacional Brasileiro, apresentada nesta quarta-feira (16) na sede do Conselho Nacional de Educação (CNE), em Brasília.
Realizada pela Aliança Nacional LGBTI+ em parceria com o Instituto Unibanco, a pesquisa teve apoio técnico do Plano CDE e envolveu 1.349 estudantes da educação básica, com foco em 1.170 participantes que se identificam como LGBTI+.
Definição e consequências do bullying
O diretor presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, menciona que o bullying homofóbico é caracterizado como uma intimidação sistemática que envolve violência física ou simbólica, além de atos de humilhação e discriminação. Ele ressaltou que o problema é estrutural e necessita de uma reestruturação nas políticas públicas, enfatizando a importância de uma convivência harmoniosa e democrática nas escolas.
“Estamos oferecendo elementos e evidências para serem trabalhados nas escolas, buscando um ambiente protegendo, democrático e no qual todos possam viver harmonicamente”, disse Reis.
Insegurança percebida
Os dados da pesquisa revelam que 86% dos estudantes LGBTI+ se sentem inseguros na escola por conta de alguma característica pessoal. O índice é ainda mais alto entre estudantes trans/travestis, chegando a 93%. O levantamento identificou que 67% dos estudantes trans consideram a escola um ambiente pouco ou nada seguro, assim como 59% dos meninos que não se encaixam nos padrões de masculinidade e 49% dos estudantes gays, lésbicas, bissexuais ou assexuais.
Além das agressões verbais, 34% dos entrevistados relataram casos de violência física, o que afeta gravemente a saúde mental dos alunos, com 94% se sentindo deprimidos no mês anterior à pesquisa.
A falta de suporte institucional
Quando confrontados por agressões, apenas 31% dos estudantes LGBTI+ buscaram a ajuda da escola, mas 69% afirmaram que nenhuma providência foi tomada. Aqueles que relataram alguma ação por parte da instituição avaliaram-nas como pouco ou nada eficazes.
O discurso da mãe de Ayo, um menino trans de 13 anos, ilustra a gravidade da situação: "Quando o profissional escolhe chamar o meu filho pelo nome morto, sabendo do nome social, ele está expondo o meu filho para a sala, para a escola inteira", destacou Elis Gonçalves, integrante da ONG Mães pela Diversidade.
Ações necessárias e políticas públicas
A coordenadora de projetos da Coordenação Geral de Políticas Educacionais em Direitos Humanos do Ministério da Educação, Maraisa Bezerra Lessa, destacou a falta de pesquisas baseadas em dados atualizados sobre as experiências de violência enfrentadas pelos estudantes LGBTI+. Segundo ela, as iniciativas do MEC visam promover uma educação que respeite a diversidade e os direitos humanos.
Entre as principais propostas para enfrentar a situação estão a criação de espaços de diálogo, sensibilização e a possibilidade de um ambiente mais seguro e acolhedor nas escolas. Tais ações são consideradas essenciais para reduzir os impactos do isolamento e da falta de redes de apoio.
Em um aspecto mais amplo, o secretário-executivo do CNE, Christy Ganzert Pato, ressaltou que a mudança não deve ser restrita à educação básica e à formação dos docentes, mas deve englobar uma transformação estrutural na sociedade como um todo.
O relatório da pesquisa também sugere a inclusão de temas de respeito, convivência democrática e medidas de proteção contra violências em todas as instituições de ensino, conforme as legislações vigentes.
Esses dados críticos evidenciam a necessidade urgente de ações eficazes e estruturais para asegurar um ambiente seguro e inclusivo a todos os estudantes, independentemente de sua identidade de gênero ou orientação sexual.
Imagem: Agência Brasil
Nove em cada dez estudantes LGBTI+ sofreram agressão verbal na escola
Fonte: Agencia Brasil.
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