Burkina Faso: A Revolução de Ibrahim Traoré Contra o Imperialismo
Com um discurso forte anti-imperialista, nacionalista e pan-africanista, o presidente interino de Burkina Faso, Ibrahim Traoré, tem buscado inspiração nos líderes históricos anticoloniais da África, como Thomas Sankara e Patrice Lumumba. Desde que assumiu o poder após um golpe militar em setembro de 2022, Traoré tem se consolidado como uma figura emblemática do Sahel, frequentemente enfrentando a hostilidade de potências ocidentais, particularmente dos Estados Unidos e da França.
“Gostaria de expressar minha gratidão a todos os patriotas amantes da paz e da liberdade que apoiam nosso compromisso com um novo Burkina Faso, livre do imperialismo”, declarou Traoré após desmantelar uma tentativa de golpe em abril deste ano.
O jovem presidente tem promovido uma série de ações que visam desmantelar relações coloniais legadas, tais como a expulsão das tropas francesas, a nacionalização de minas, criação de bancos públicos e acordos estratégicos com países como Rússia e China. O objetivo é desvincular a economia local da antiga moeda colonial, o franco CFA, além de implementar projetos de industrialização e proibir a exportação de alimentos.
Burkina Faso ocupa uma área semelhante ao Rio Grande do Sul e possui uma população de cerca de 23 milhões de habitantes. A nação, que enfrenta uma guerra civil contra grupos terroristas islâmicos há pelo menos 15 anos, tem visto aumentar a violência desde a ascensão de Traoré.
‘Che Guevara Africano’
Ibrahim Traoré, além de estar bem posicionado no cenário local, está se afirmando na esfera geopolítica regional. Segundo o jurista e analista político Hugo Albuquerque, ele possui forte apoio popular. “Ele é um símbolo para a região, semelhante ao que Che Guevara representa na América Latina. Tem realizado reformas e distribuído renda, conquistando a confiança das Forças Armadas”, analisa.
Pesquisadores como Eden Pereira Lopes da Silva destacam que Traoré não apenas referencia figuras históricas do pan-africanismo, mas também pratica ações concretas em seus moldes. O historiador ressalta que, ao promover uma agenda nacionalista e se identificar com outros países em busca de soberania, ele resgata visões revolucionárias que se opõem ao colonialismo.
Contexto Histórico
A história recente de Burkina Faso é marcada por um passado colonial e autoritário. Em 1980, sob a liderança de Thomas Sankara, o país passou por uma revolta que resultou na mudança de nome de Alto Volta para Burkina Faso. Contudo, em 1987, Sankara foi assassinado, resultando em mais de 30 anos de regime ditatorial, sustentado pelo apoio ocidental. Desde então, o país tem enfrentado um ciclo de instabilidade política que facilitou a ascensão de Traoré.
De acordo com especialistas, os movimentos militares, como o de Traoré, são respostas a anseios populares de exclusão política e condições de vida insustentáveis. Embora os novos regimes sejam acusados de autoritarismo, a avaliação da realidade política em Burkina Faso não é simples. As instituições estão, em muitos aspectos, em processo de construção, após uma drástica ruptura institucional.
A Questão do Terrorismo
O aumento da violência terrorista no Sahel, particularmente em Burkina Faso, se intensificou desde a ascensão de Traoré ao poder. O Centro Africano de Estados Estratégicos aponta que o número de mortos por terrorismo triplicou em comparação com o período anterior à sua liderança. Pesquisadores apontam que a instabilidade social, junto com a exclusão de grupos étnicos do poder, gera um terreno fértil para a radicalização.
Em uma reunião recente com o presidente russo Vladimir Putin, Traoré declarou que as raízes do terrorismo na região se ligam ao imperialismo, enfatizando seu compromisso em construir um exército forte para promover o desenvolvimento do país.
Conclusão
As transformações políticas em Burkina Faso sob Ibrahim Traoré colocam o país em uma encruzilhada, onde o resgate de uma identidade nacional e a luta contra o imperialismo se tornam centrais em sua trajetória. Esse novo capítulo pode ter impactos significativos não apenas para a nação, mas também para a estabilidade da região do Sahel.
Foto: @CapitaineIb226/Instagram oficial
Líder anti-imperialista em Burkina Faso, Traoré se destaca na África
Fonte: Agencia Brasil.
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