Lançamento do Atlas da Amazônia Brasileira busca desconstruir estereótipos regionais
Brasília, 5 de setembro de 2023 — A Fundação Heinrich Böll no Brasil lançou, nesta segunda-feira, o Atlas da Amazônia Brasileira, uma publicação inédita que reúne 32 artigos com foco nos desafios, saberes e potenciais da maior floresta tropical do mundo. O projeto visa mudar a perspectiva sobre a Amazônia, apresentando a região através da voz de seus diversos habitantes.
O coordenador da área de Justiça Socioambiental da fundação e co-organizador do atlas, destacou que muitos enxergam a Amazônia apenas como uma vasta floresta, enquanto, na verdade, a região abriga uma riqueza cultural e social que frequentemente passa despercebida. “A gente mal sabe que 75% da população da Amazônia é urbana. Existem diversas comunidades que já praticam formas sustentáveis de convivência com a natureza”, afirmou.
Justiça Climática em Pauta
O atlas é lançado em um ano simbólico, marcado pela expectativa da COP30 na Amazônia. Entre seus 58 autores, estão 19 indígenas, 5 quilombolas e 2 ribeirinhos, que trazem uma diversidade de narrativas e saberes para o debate sobre justiça climática e territorial.
A Fundação apontou que, entre 2019 e 2022, a Amazônia viu um aumento recorde no desmatamento, impulsionado principalmente pela expansão da pastagem para a criação de gado. O garimpo ilegal em áreas protegidas cresceu 90%, enquanto o número de registros de armas na Amazônia Ocidental cresceu impressionantes 1.020% no mesmo período.
Mais alarmante ainda é o fato de que, em 2022, a Amazônia registrou mais de um quinto dos assassinatos de defensores do meio ambiente no mundo, totalizando 39 ativistas mortos.
Crises e Desafios Recorrentes
Nos últimos anos, a região enfrentou crises humanitárias significativas, como a que atingiu o povo indígena Yanomami, cuja terra foi invadida por garimpeiros ilegais. A crise climática se intensificou, resultando em secas severas e níveis historicamente baixos nos rios, impactando a saúde e o acesso a recursos essenciais.
Em 2024, a Amazônia experimentou o maior número de focos de incêndio em 17 anos, e a fumaça resultante afetou a qualidade do ar em outros estados do Brasil. Esta situação crítica se somou aos recordes de queimadas em outros biomas, como o Pantanal e o Cerrado.
A Fundação Heinrich Böll comentou que os últimos anos parecem traçar um futuro sombrio para a Amazônia, refletindo os impactos do colapso climático e das disputas políticas que intensificam os crimes ambientais.
Crime Organizado e suas Implicações
Um artigo intitulado "Crime Organizado", escrito pelos pesquisadores Aiala Colares Couto e Regine Schönenberg, discute como a Amazônia se tornou um corredor crucial para o tráfico de drogas, o que contribuiu para a interiorização da violência na região. Facções criminosas que operavam em outras partes do Brasil, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), estão ampliando sua presença na Amazônia.
A relação entre narcotráfico e crimes ambientais inclui atividades ilegais como a exploração de madeira e o garimpo ilegal, frequentemente financiados como parte de um esquema de lavagem de dinheiro. Pesquisadores alertam para o aliciamento de jovens indígenas pelas facções, o que tem consequências devastadoras para as comunidades locais.
A Fundação Heinrich Böll
A Fundação Heinrich Böll é uma organização política alemã com atuação em mais de 42 países, promovendo diálogos pela democracia e pelos direitos humanos. No Brasil, a fundação está há 25 anos apoiando projetos de organizações da sociedade civil e publicando materiais sobre justiça socioambiental, sempre buscando integrar a defesa ambiental com a promoção dos direitos das comunidades respectivas.
O Atlas da Amazônia Brasileira, portanto, não apenas oferece uma nova perspectiva sobre a região, mas também busca engajar a sociedade em um debate crucial sobre seu futuro e os direitos dos que nela habitam.
Fundação Heinrich Böll/Divulgação
Atlas da Amazônia Brasileira busca descontruir estereótipos da região
Fonte: Agencia Brasil.
Meio Ambiente